Sobre
Recomendo
TAGUES
amigos aquarelas arquitetura artes plásticas Assis Bares boxe caricaturas cinema Citações coquetéis críticas culinária desenhos desenhos em computador digigrafias família futebol gouaches literatura Livraria Martins mini-contos música Neruda outros escritos paisagens digitais pinturas Pinturas em luz negra poesia pop-art Programação Visual quadrinhos traduções tuda Viagens vinhosARQUIVO
- December 2020
- November 2020
- October 2020
- September 2020
- August 2020
- July 2020
- June 2020
- May 2020
- April 2020
- March 2020
- February 2020
- January 2020
- December 2019
- November 2019
- October 2019
- September 2019
- August 2019
- July 2019
- June 2019
- May 2019
- April 2019
- March 2019
- February 2019
- January 2019
- December 2018
- November 2018
- October 2018
- September 2018
- August 2018
- July 2018
- June 2018
- May 2018
- April 2018
- March 2018
- February 2018
- January 2018
- December 2017
- November 2017
- October 2017
- September 2017
- August 2017
- July 2017
- June 2017
- May 2017
- April 2017
- March 2017
- February 2017
- January 2017
- December 2016
- November 2016
- October 2016
- September 2016
- August 2016
- July 2016
- June 2016
- May 2016
- April 2016
- March 2016
- February 2016
- January 2016
- December 2015
- November 2015
- October 2015
- September 2015
- August 2015
- July 2015
- June 2015
- May 2015
- April 2015
- March 2015
- February 2015
- January 2015
- December 2014
- November 2014
- October 2014
- September 2014
- August 2014
- July 2014
- June 2014
- May 2014
- April 2014
- March 2014
- February 2014
- January 2014
- December 2013
- November 2013
- October 2013
- September 2013
- August 2013
- July 2013
- June 2013
- May 2013
- April 2013
- March 2013
- February 2013
- January 2013
- December 2012
- November 2012
- October 2012
- September 2012
- August 2012
- July 2012
- June 2012
- May 2012
- April 2012
- March 2012
- February 2012
- January 2012
- December 2011
- November 2011
- October 2011
- September 2011
- August 2011
- July 2011
- June 2011
- May 2011
- April 2011
- March 2011
- February 2011
- January 2011
- December 2010
- November 2010
- October 2010
- September 2010
- August 2010
- July 2010
- June 2010
- May 2010
- April 2010
- March 2010
- February 2010
- January 2010
- December 2009
- November 2009
- October 2009
- September 2009
- August 2009
- July 2009
- June 2009
- May 2009
- April 2009
- March 2009
- February 2009
- January 2009
- December 2008
- November 2008
- October 2008
- September 2008
- August 2008
- July 2008
- June 2008
- May 2008
- April 2008
- March 2008
- February 2008
- January 2008
- December 2007
- November 2007
- October 2007
- September 2007
- August 2007
- July 2007
- June 2007
- May 2007
- April 2007
- March 2007
- February 2007
- January 2007
- December 2006
- November 2006
- October 2006
- September 2006
- August 2006
- July 2006
- June 2006
- May 2006
- April 2006
- March 2006
- February 2006
- January 2006
- December 2005
- November 2005
- October 2005
- September 2005
- August 2005
- July 2005
- June 2005
- May 2005
- April 2005
- March 2005
- February 2005
- January 2005
- December 2004
- November 2004
- October 2004
- September 2004
- August 2004
- July 2004
- June 2004
- May 2004
- April 2004
- March 2004
- February 2004
- January 2004
- December 2003
- November 2003
- October 2003
- September 2003
- August 2003
- July 2003
- June 2003
- May 2003
- April 2003
- March 2003
- February 2003
- January 2003
- December 2002
- November 2002
- October 2002
- September 2002
- August 2002
- July 2002
- June 2002
- May 2002
- April 2002
- March 2002
- February 2002
- January 2002
- December 2001
- November 2001
- October 2001
- September 2001
- August 2001
- July 2001
October 2012
Já saiu a nova TUDA de outubro, desta vez a ênfase vai para Portugal… Além das minhas humildes contribuições tem a poesia de Arnaldo Xavier, a crônica de Roniwalter Jatobá, e também tem a pintura de Nadir Afonso, e Almada Negreiros, e muitos mais…
Aliás por falar em Almada Negreiros, vai a citação:
“No suplemento literário do Times do dia 12 de janeiro de 1933 encontrei numa crítica a um livro intitulado As artes visuais e na qual estava a única definição de Arte que até hoje me satisfaz :’ A Arte não é um aspecto da vida ; é o todo da vida visto debaixo de um aspecto’ ”
( Almada Negreiros )
Tagged tudaA INCRÍVEL ESTÓRIA DE ODAIRE VOLTAIRE
1- IR
Definitivamente, Odaire Voltaire Itaglianinni Mouzinho não era um pessoa com uma vida comum… nascera em outubro de 1944, durante o bombardeio de Roma… filho do filósofo português Moacyr Mouzinho e da escritora italiana Itala Itaglianinni… seu pai fugira do Portugal salazarista, sua mãe filha de uma condessa russa com um aristocrata genovês, se desiludira da cultura ocidental…
Apesar de uma infância de privações, o nosso protagonista participou como figurante do filme “La Strada” de Frederico Fellini em 1952, onde aparece em uma praça em meio a pessoas que assistiam a um circo de rua… neste dia, durante as filmagens ele fez uma promessa para si mesmo: -”Io diventerò un artista” (*)
Na juventude formou um das primeiros grupos de rock italianos, o “L’effervescente Zucchine” cujo principal sucesso era “Il Tempo È Dalla Mia Parte” uma versão italiana de “Time Is On My Side”… até hoje ele guarda uma foto da banda, e não se cansa de mostrar para seus amigos de bar…
O “L’effervescente Zucchine” fez um enorme sucesso na Itália, seus shows eram sempre espetaculares, desde as apresentações nos ginásios das principais cidades (Roma, Firenze, Milão Turim, etc.) até as pequenas turnês como a da Sicília no verão de 1963 ou a da Costa Amalfitana durante a primavera de 1964…. porém seguindo o caminho oposto ao do grupo de rock brasileiro “Os Incríveis” que estourou na Itália, o “L’effervescente Zucchine” achou que poderia fazer sucesso em Pindorama …
Ledo engano… a sonoridade da banda era muito avançada… uma espécie de dodecafonismo psicodélico… a turnê foi um fracasso total… talvez se eles tivessem vindo ao Brasil na época da tropicália a estória poderia ser outra… Todos retornaram para o país natal, menos Odaire Voltaire, que familiarizado com a lingua portuguesa (afinal era um Mouzinho), resolveu ficar para ver no que dava…
Largou então a música e passou a se dedicar às artes plásticas, expondo junto com Gershman, Antônio Dias e Maurício Nogueira Lima… participou da exposição de arte “Apocalipopótese” no aterro do Flamengo em 1968, junto com Hélio Oiticica, Lygia Clark, Rogério Duarte, etc… lá conheceu Lúcia Laércia, que no ano seguinte iria tornar-se sua esposa… porém após o casamento rumores e boatos que diziam que ele era um membro das Brigate Rosse, obrigaram nosso protagonista e sua esposa (grávida nesta altura do campeonato) a deixarem Pindorama através da República Oriental (traduzindo: sairem do Brasil através do Uruguai)…
2- VOLTAR
Uma vez em meados dos anos setenta em um pequeno bar perto da estação de trem de Brindisi, Odaire Voltaire puxou conversa com o famoso cantor Domenico Modugno, e após beber uma longa série de dry-martinis, começou a contar sobre sua vida… disse que vivera no Brasil e que lá havia se casado com uma bella ragazza, mas que havia voltado à Itália onde havia tido uma filha… logo depois se separou… a ex-mulher continuou a morar na Itália, mas nunca o deixou se aproximar da criança…de vez em quando ele ligava fingindo que era engano, só para ouvir a voz da criança no telefone… Domênico Modugno ouviu a estória com lágrimas nos olhos… semanas depois Odaire Voltaire entrou em uma sorveteria perto da Fortezza Vecchia em Livorno e ouviu uma nova canção de Modugno: “Piange il Telefono”… era a sua estória… tempos depois fizerem uma versão brasileira chamada O Telefone Chora” gravada por um cantor chamado Márcio José…
Meses depois do famoso encontro em Brindisi, Lúcia Laércia comecou a enlouquecer e o nosso protagonista conseguiu a guarda da filha, Lauretta Laércia Mouzinho… porém a menina apesar de o ter aceitado como pai (ficara inclusive impressionada em descobrir-se bisneta de uma condessa russa); insistia em ser criada por um figura feminina, sendo que o jeito que o nosso protagonista encontrou para resolver tal questão foi levá-la para passar uma temporada com a tia Elvira (irmã de seu pai) em Sintra…
Em Portugal, Odaire Voltaire participou da agitação decorrente da Revolução dos Cravos, onde conheceu Glauber Rocha que viera para a terrinha, para participar como entrevistador do documentário “As Armas e o Povo” (**), inclusive há nesta película, uma cena no Rocio, onde podemos ver Odaire Volaire em meio a multidão…
3 -VOLTAR A IR
Em 1977 ele trouxe sua filha ao Brasil, para conhecer os avós maternos… Em Pindorama voltou a se encontrar com Glauber… desta vez aparece como coadjuvante na entrevista que o General Golbery do Couto e Silva concedeu para quadro do programa “Abertura” que o cineasta baiano fazia na TV Tupy.., Golbery tomando whisky junto a uma parede de tijolo aparente, comentando o golpe de 64…
A partir desta experiência com o cinema, Odaire Voltaire retomou o contato com sua infância, com a precoce participação em “La Strada” de Frederico Fellini… então a estória de nosso protagonista adquire dimensões épicas…
4 – DE VOLTA A REALIDADE
Seus amigos de bar não se cansam de ouvir seus feitos… muitos sabem que a foto dos “L’effervescente Zucchine” que ele mostra com tanto orgulho é na verdade uma foto dos Rolling Stones no início de carreira, em que os integrantes estão com os rostos meio encobertos pelo ângulo adotado pelo fotógrafo… sabem também que:
– Os aliados libertaram Roma em junho de 1944, por isso não haveria razão para um bombardeio ter ocorrido quatro meses depois de domínio aliado ;
– Ninguém em sã consciência faria o que Moacyr Mouzinho fez: fugir de Portugal de Salazar para Itália de Mussolini;
– O grupo terrorista de extrema esquerda “Brigate Rosse” (Brigadas Vermelhas) surgiu em 1970, portanto é absurda a estória que um ano após o “Apocalipopótese”, ou seja em 1969, alguém possa acusar Odaire Voltaire de pertencer a um grupo terrorista que nem sequer existia;
– “Piange il Telefono” não foi composta originalmente na língua italiana, na verdade é uma versão da canção francesa “Le Téléphone Pleure” ( letra de Franck Thomas e música de Jean-Pierre Bourtayre) que por sua vez é baseada (embora com melodia e letra diferentes) na canção country “Telephone Call” (George & Tammy & Tina, Telephone Call);
– O General Golbery do Couto e Silva jamais apareceu no programa “Abertura”… quem apareceu tomando whisky junto a uma parede de tijolo aparente, foi o jornalista e escritor Carlos Castello Branco, e não foi na TV… foi no filme “Terra em Transe”.
Seus amigos sabem, sabem que a lenda é mais divertida do que a realidade, sabem que o que Odaire Voltaire narra, não é sua vida real, mas um sonho, um sonho de pseudo-intelectual urbanóide … sabem que ele nasceu na verdade foi no bairro paulistano do Cambuci… sabem que sua avó não era condessa russa, mas uma camponesa da Calábria que imigrara para o Brasil… sabem que ele na verdade nunca saiu do estado de São Paulo… Eles sabem, mas deixam Odaire Voltaire contar, contar e contar… suas incríveis estórias… Sem elas a conversa no bar seria um tédio…
(*) “Eu irei me tornar artista”
(**) Filme coletivo realizado e produzido pelo sindicato português “Colectivo de Trabalhadores da Actividade Cinematográfica”.
Tagged mini-contos