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Citação do dia:

“O Cônsul afinal baixou os olhos. Quantas garrafas desde então? Em quantos copos, quantas garrafas desde então sozinho ele se escondera? De repente ele as viu garrafas de aguardiente, de anís, de jerez, de Highlan Queen, e viu os copos, uma babel de copos – uma torre perfeita, como a fumaça do trem daquele dia, construída até o céu, que desmoronava, os copos tombavam se espatifavam rolavam morro abaixo pelos jardins do Generalife e as garrafas quebrando-se, garrafas de porto, tinto, blanco, garrafas de Pernod, Oxygènée, absinto, as garrafas esborrachando-se, jogadas fora, caíam com um baque surdo no chão dos parque, embaixo dos bancos, camas, cadeiras de cinema, escondiam-sem em gavetas de consulados, garrafas de Calvados aos cacos, ou estilhaçando-se numa explosão feérica, arremessados em monturos de lixo, lançadas ao mar, no Mediterrâneo, no Cáspio, no Caribe, garrafas flutuando no oceano, escoceses mortos nas serranias atlânticas – e ele agora via, cheirava todas elas, desde o começo, garrafas, garrafas, garrafas, e copos, copos, copos, de bitter, Dubonnet, Falstaff, Rye, Johnny Walker, Vieux Whiskey blanc Canadien, os aperitivos, os digestivos, os demis, os dobles, os noch ein Herr Ober, os et glas Arak, os tusen tak, as garrafas, as garrafas, as lindas garrafas de tequila e as cabaças, as cabaças, as cabaças, as milhões de cabaças de delicioso mescal… O Cônsul, sentado, não se mexia. Sua consciência soava amortecida pelo barulho da água. (…) De fato, como poderia ele esperar encontrar-se, começar de novo quando em algum lugar, numa destas garrafas, talvez perdidas ou quebradas, , num desses copos jazia para sempre a chave solitária da sua identidade?”

( Malcolm Lowry – tradução: Leonardo Fróes )

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