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A FADA DA BOATE VOGUE

Vanessa Van Nassau era um dos legados que a colonização holandesa deixara para a Recife dos anos 50 . Bonita e culta circulava com desenvoltura pela noite da capital pernambucana . Porém uma paixão repentina por um jornalista americano fez com que juntasse suas economias e deixasse sua casa no bairro de Imbiribeira , rumando para a então capital da nação com apenas poucas peças de roupa e um antigo álbum de gravuras que gostava de folhear na infância .

Ao chegar a cidade maravilhosa a nossa protagonista , se dirigiu para o apartamento de seu amado no bairro da Tijuca , em uma das travessas da R. Conde do Bonfim , e verificou que o endereço que o seu yankee queridinho lhe fornecera , simplesmente não existia …

Sentindo-se lograda e sem possuir o dinheiro para a passagem de volta , tomou um taxi para Copacabana acreditando que a sorte lhe compensaria a humilhação que acabara de sofrer .

Recém-instalada em um hotel pequeno porém aconchegante , Vanessa saiu para caminhar sob o crepúsculo e encontrou um conhecido conterrâneo que estava morando no Rio de Janeiro onde exercia as funções de radialista , locutor de futebol , compositor e jornalista ( também ) . O seu amigo contou que acabara de compôr uma canção intitulada “O Amor e a Rosa” , e que uma famosa cantora havia incluído-a no repertório do show que realizava diariamente na mais badala boate da cidade .

A srta. Van Nassau se mostrou bastante interessada , uma vez que aquele sujeito gordo e suado era uma das pessoas mais inteligentes com quem conversara . Diante de tal interesse o cidadão explicou que aquela boite pertencia a um barão austríaco , sendo um lugar onde coisas boas aconteciam . Combinaram de encontrar-se no dito local , situado na R. Princesa Isabel , horas mais tarde .

No meio da apresentação , os holofotes da boate focalizaram a mesa onde Vanessa e seu amigo tomavam whisky , e então para o espanto dela , a crooner apontando para seu copanheiro anunciou : “A maoiria desses compositores de hoje não valem dez paus !!! Porém este aí é diferente …” . A seguir a dama do Encantado olhou para a dama de Imbiribeira , fez uma pequena pausa e começou a cantar “O Amor e a Rosa” : aplausos gerais !!!

Uma extrema comoção apoderou-se da nossa protagonista que dirigindo-se ao toillete , apanhou no meio do caminho , uma rosa de um vaso qualquer , colocando-a na bolsa . Dentro do banheiro Vanessa quis examinar melhor a rosa e notou em seu centro um pequeno rosto minúsculo . Sem saber se era um delírio etílico ou coisa diversa , ela tornou a colocar a rosa dentro da bolsa , decidindo aproveitar a noite para só pensar naquilo depois .

No quarto de hotel , verificou que era um rostinho mesmo e em poucos instantes iniciou-se um contato telepático , no qual a pequenina face afirmou ser uma entidade denominada A Fada da Rosa , adivinhando a falta de recursos da Srta. Van Nassau , aconselhou-a ir nas melhores livrarias da cidade oferecer o livro de gravuras que trouxera , pois ele valia muito dinheiro . Disse também que ficaria muito agradecida se fosse posta em uma taça com champagne francês ao invés de um copo d’água .

Na manhã seguinte vendeu seu exemplar de Gaspar Barleus (*) por uma quantia vultuosa , a tarde foi comprar uma caixa de champagne francês para que sua rosa não ficasse ressecada , a noite partiu para a felicidade …

(*) Físico e desenhista holandês que viera com Maurício de Nassau para o Brasil no final século 16 .

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