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Estou lendo “Febre de Bola” de Nick Hornby – Editora Rocco, um relato autobiográfico que versa sobre a sua obsessão pelo Arsenal, a vida do autor é narrada através dos jogos de futebol… gozado é que passei a assistir alguma coisa do que se passou no futebol inglês entre 1968 e 1991… gostei de ver o craque irlandês Liam Brady… vejam o que ele fez neste jogo…(*), vejam também uma descrição resumida que Nick Hornby fez da partida:

(*) Liam Brady é o camisa 7 do Arsenal, que neste jogo joga com o uniforme parecido com o do escrete canarinho… reparem que os três gols nascem de jogadas dele… e por falar em escrete canarinho, lembrem-se que Brady fez o gol da vitória na única vitóra da seleção da ilhinha sobre a seleção de Pindorama (na época comandada por Carlos Alberto Silva) no Lansdowne Stadium em Dublin…

WEMBLEY IV – A CATARSE

“ARSENAL vs MANCHESTER UNITED (em Wembley) 12/5/79

Eu não tinha absolutamente nenhuma ambição pessoal antes de fazer 26 ou 27 anos, quando resolvi que podia e iria viver de escrever, larguei meu emprego e fiquei esperando que os editores e/ou produtores de Hollywood me ligassem e pedissem que eu fizesse alguma coisa para eles no escuro. Meus amigos na faculdade devem ter perguntado o que eu pretendia fazer na vida (…) mas o futuro ainda me parecia tão inimáginável e desinteressante (…) de modo que não faço idéia do que posso ter respondido.
(…)
Talvez eu não tivesse nenhuma idéia para mim mesmo, mas tinha grandes idéias para os meus times de futebol. Dois desses sonhos, o ascenso do Cambridge United da Quarta para a Terceira Divisão, e depois da Terceira para a Segunda – já haviam sido realizados. Mas a terceira – e mais ardente – ambição, a de ver o Arsenal ganhar a Taça da da Liga em Wembley (…) ainda permanecia irrealizada.
(…) O Arsenal marcou duas vezes no primeiro tempo, sendo o gol de abertura aos 12 minutos (pela primeira vez em quatro jogos eu via o Arsenal abrir uma vantagem em Wembley) e o segundo gol pouco antes do apito; o intervalo se transformou em 15 minutos abençoadamente relaxados de comemoração ruidosa. Grande parte do segundo tempo transcorreu da mesma forma, até que a cinco minutos do fim o Manchester marcou…e a dois minutos do fim, numa câmara lenta traumatizante e confusa, marcou de novo. (…)
Naquela tarde eu estava tomando conta de um garoto americano, um amigo da família e a sua suave solidariedade e óbvia perplexidade só realçavam de forma constrangedora a minha angústia: eu sabia que aquilo era apenas um jogo, que coisa piores aconteciam em alto mar, que havia gente morrendo de fome na África, que talvez ocorresse um holocausto nuclear nos meses seguintes, sabia que o placar estava em 2 a 2, pelo amor de Deus, e que havia chance do Arsenal descobrir um jeito qualquer de sair da lama (embora soubesse também que a maré havia virado, e que os jogadores estavam com o moral baixo demais para ganhar o jogo na prorrogação). Mas nada que eu sabia podia me ajudar. Estivera a apenas cinco minutos de realizar a única ambição plenamente formada que já possuíra conscientemente desde a idade de 11 anos: e se as pessoas podem se lamentar quando são passadas para trás numa promoção, ou quando deixam de ganhar o Oscar, ou quando seus romances são rejeitados por tudo que é editor em Londres, (…) mesmo quando essas pessoas só vêm sonhando estes sonhos há dois anos, e não há uma década inteira, metade de uma vida como eu vinha sonhando o meu – então, tinha direito de me sentar num pedaço de concreto por dois minutos e tentar conter as lágrimas.
E realmente foi só por dois minutos. Quando o jogo recomeçou Liam Brady invadiu a intermediária do Manchester com a bola (mais tarde ele disse que estava exausto, e tentando apenas impedir que sofrêssemos mais um gol) e lançou-a na lateral para Rix. Eu estava assistindo a tudo isso, mas sem ver nada, mesmo quando Rix fez o cruzamento e o goleiro do Manchester, Gary Bayley não conseguiu espalmar, não estava prestando muita atenção. Mas aí Alan Sunderland meteu o é na bola e a enfiou-a lá dentro, bem dentro daquele gol ali na nossa frente (…)”

( Nick Hornby – tradução: Paulo Reis )

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