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O ROMANCE DA AÇOUGUEIRA

I – A SEMANA FATÍDICA

– Benhêê … o que são estas crianças vestidas de Teletubies no vídeo ??? Benhêê …que é que você tá fazendo aí na fita ??? Meu Deus !!! Não , Não !!! O que que é isso !!! Que horror , que horror !!! Meu Deus , não , não pode ser …

– Querida … esta fita não …pelo amor de Deus … esta fita não …

Era tarde demais …Nívio Levi Tortoni esquecera aquele vídeo em cima do aparelho e naquele momento Anita Jambeiro Tortoni , sua esposa , assistia cenas pedófilas de seu marido gravadas provavalmete em uma viagem ao exterior …

A semana terminara para nossa protagonista com a ruína do seu casamento …

Vamos ver o que sucedeu no início do fatídico período de sete dias …

Ao acordar na segunda-feira , sentindo a cama vazia ( uma vez que o marido estava em um congresso de estórias em quadrinhos na Dinamarca ) , ela só de raiva resolveu demitir o funcionário mais querido de seu açougue … Temendo a reação de seus colegas de trabalho ( devido a sua enorme populariedade ) , Anita passou um e-mail para a sua secretária e só foi trabalhar no dia seguinte . Na verdade foi , mas não conseguiu pois no início da manhã de terça-feira o açougue BOITATÚ foi lacrado pela vigilância sanitária … A nossa amiga resolveu esperar até o final da semana , quando Nívio voltasse ao país , para se aconselhar com a cara metade …Na quarta-feira ela ficou pensando no finado pai , um gaúcho de Salto que chegando em São Paulo enriqueceu no ramo de carnes … Ele a ensinou tudo , os diversos tipos de corte , os segredos da conservação de carne … Anita lembrou do brilho amanteigado de seus olhos , na expressão de satisfação que seu pai fez quando ela sozinha , destrinchou o primeiro boi … Quinta-feira foi o dia do arrependimento , ela reconheceu que fizera uma injustiça , justamente com aquele que amava inconscientemente , aquele com que simpatizara por tê-la emprestado um livro de contos de Machado de Assis … Sabia que ele morava na R. William Blake no bairro de Jardim Gismar ; pois uma vez ele a vira carregando um volume de “Songs of Innocence and of Experience” , e afirmou: – “Sabe , eu moro em uma rua com o mesmo nome que o autor deste livro , lá ninguém imagina que foi ele.” … Foi meio difícil de achar a rua ( era perto da Av. Ellis Maas ) , lá perto , entrou em um boteco e perguntou : – “Alguém sabe onde mora um cara chamado Jonas Genival ???” … As pessoas sacudiam a cabeça negativamente , quando o dono do estabelecimento respondeu : – “Peraí gente … o Jonas é o fio da véia … é na casa vermelha que fica no meio do quarteirão .” … Mas foi em vão …ela tocou várias vezes a campainha e ninguém atendeu … Na sexta quando voltava do pedicure , Anita viu na esquina da rua que morava , uma velhinha fazendo um despacho … Quando se aproximou para observar a mandinga a anciã soltou uma gargalhada que soava como um roda-moinho, e depois disse : – “Você só terá sucesso quando ele subir … só quando ele subir !!!” …Naquele noite ela não conseguiu dormir direito …No dia seguinte tentou novemente pedir desculpas para o seu querido injustiçado mas novamente não o encontrou … A noite foi ao aeroporto buscar seu marido …

II – MUITO TEMPO DEPOIS

Anita Jambeiro ( retirara o Tortoni do sobrenome pois se separara daquele traste ) agora trabalhava como ascessorista no centro da cidade … alguns estranharão a natureza do emprego , porém o longo período em que ela passara nas câmaras frigoríficas de seu açouge , fez com que tomasse gosto por ambientes fechados …

Uma tarde a nossa protagonista se surpreendeu ao ver entrar um homem bem trajado , com gel no cabelo e um anel de ouro no mindinho … era simplesmente Jonas Genival !!!

Ele olhou para ela , disse : – “Boa tarde … para o sétimo por favor” e sorrindo começou a assobiar a bela canção denominada “Os quindins de Iaiá” de Ary Barroso. A música ficou o resto do dia latejando na cabeça de nossa amiga , que ao final do expediente ficou com um enorme desejo de saborear a supra-citada guloseima … Ao sair do serviço , caminhando pela rua Aurora encontrou um senhor de idade com suor escorrendo pela testa , que vestindo um paletó apertado ( apesar do calor ) oferecia quindins aos transeuntes … Anita ficou conversando com ele , descobriu que era uma pessoa bem formada que falava sete idiomas com fluência …comprou uma caixa de quindins e ganhou ainda um bilhete de loteria ( brinde que o exótico vendedor costumava a dar aos fregueses ) …

O bilhete foi premiado … ela não precisava trabalhar mais nos elevadores … nem ouvir aqueles gracejos infames dos boys de escritórios … só precisava agradecer ao velhinho dos doces … Naquele dia ela caminhou pela referida rua e na esquina desta via com a R. dos Andradas , avistou o simpático senhor tomando um chopp com ninguém mais , ninguém menos que Jonas Genival … Este olhou para ela sorrindo e disse : – ” Sente-se conosco … este é o melhor chopp do Brasil !!!”

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