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Hoje recuperado das festividades regadas a chopp escuro , comento sobre dois entre vários presentes que recebi :

O Dicionário de Filmes Brasileiros , elaborado por Antônio Leão da Silva Neto , que tem quase quatro mil filmes registrados , ou seja toda a produção nacional desde 1908 . Tentei lembrar de alguns dos filmes mais desconhecidos que assisti : Os Monstros de Babaloo ( 1970 ) de Elyzeu Visconti , O Rei dos Milagres ( 1973 ) produção ítalo-brasileira dirigida por Joel Barcellos , Caveira My Friend ( 1970 ) de Álvaro Guimarães , Viagem ao Fim do Mundo ( 1968 ) de Fernando Cony Campos …Tem tudo , tudo mesmo …

E não só fichas técnicas , vejam que interessante a definição que o diretor Rogério Sganzerla dá para seu longa em cinemascope “Sem essa aranha” ( 1970 ) O filme é uma comédia sobre a fome, ensaio de humor negro sobre a miséria agônica do subdesenvolvimento mental de nossas elites, onde o excelente cômico Jorge Loredo representa a burguesia nacional através do personagem-título, um pobre diabo chapliniano e um magnata inigualável, as voltas com os constantes solavancos da nossa realidade , sujeitas a chuvas e trovoadas, assim como as quarteledas e abusos de poder , típicos da época em que foi rodado. Compõe-se de 17 planos seqüências moveis alguns com mais de dez minutos de duração.”

Por falar em plano-seqüência (cena longa em que a câmera se movimenta sem cortes), quem assistiu ao filme “Durval Discos” ( 2002 ) de Anna Muylaert , na mostra de cinema que está passando em São Paulo , pôde ver um dos melhores planos-seqüência já realizados em Pindorama , no qual em uma tomada que percorre um quarteirão da R. Teodoro Sampaio são exibidos os letreiros do filme incorporados em diversos tipos de suportes de escrita : cartazes , calendários , painéis de letras plásticas de botecos ( aqueles onde tem o nome dos sanduíches ) , placas de logradouros , etc … Este não é o único ponto alto da película : há a interpretação brilhante de Etty Frazer , a trilha sonora , uma discussão sobre a vantagem dos discos de vinil ( “tem lado A e lado B” , por exemplo ) , etc … Quem não viu azar , pois estréia só em Março . E como este dicionário contém 253 filmes em andamento , “Durval Discos” também está lá .

O outro presente que recebi é o livro “Eu não sou cachorro não” de Paulo César de Araújo , que mostra a história da música popular cafona ( o autor prefere este termo ao “brega” que usamos hoje ) entre 1968 e 1978 , com ênfase na produção de Paulo Sérgio , Odair José , Nelson Ned , Waldik Soriano , Agnaldo Timóteo , Dom e Ravel , Benito de Paula , Luiz Ayrão , Wando , Cláudia Barroso , Fernando Mendes , Carmem Silva , Evaldo Braga , Lindomar Castilho , Cláudio Fontana , José Augusto , Diana , ngelo Máximo , Reginaldo Rossi, etc … Só li alguns trechos , mas dá para ver que tem muita infomação valiosa , como o motivo do título “O inimitável” do disco do Roberto Carlos ( aquele que contém “Ciúmes de Você” , “As canções que você fez pra mim”, etc ) : era uma alfinetada que o pessoal da CBS queria dar em um ex-alfaiate que com um, timbre de voz parecido , estava ameaçando o Rei ao vender 300 mil discos em seu LP de estréia : Paulo Sérgio !!!

Como disse não li tudo e posso estar agora escrevendo uma bobagem , mas acho que esta obra recém-lançada poderia ter destacado mais a obra de Antônio Marcos , afinal este cantor e compositor está estéticamente e cronológicamente muito próximo do universo contemplado … mas apesar da origem humilde comum aos músicos retro-mencionados ( era oriundo do bairro paulistano de São Miguel , na periferia ) , Antônio Marcos não era despolitizado como os demais , pois integrara o elenco da peça “Arena canta Zumbi” .. talvez seja este o motivo da exclusão do saudoso Toninho …

O autor alega que a história oficial da música brasileira depreza estes artistas ( o que é verdade ) , mas não cita o pessoal mais jovem que anda fazendo releituras : Patrícia Ahmaral , Rita Ribeiro , etc… além de outros menos conhecidos , como este que vos escreve ( quem conhece um pouco das pérolas musicais destes supracitados autores e intérpretes poderá ver que este blog contém inúmeras citações e referências às canções deste período ) .

Apesar de uma ou outra omissão , o livro contém algumas análises bastantes profundas como ao comentar que : “Visando estimular a alegria e o otimismo do povo brasileiro , uma das campanhas da ditadura militar tinha como o lema a frase ‘você precisa acreditar’ – ou seja o oposto do que cantava Paulo Sérgio no sucesso Eu não creio em mais nada (…) inseridos neste contexto, o ceticismo e a melancolia do repertório ‘cafona’ acabavam por adquirir , mesmo que não intencionalmente , um caráter transgressor e de resitência – principalmente quando a tristeza vinha associada as questões sociais do país .” Bom …muito bom …

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