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Acabei de ler “Jaqueta Branca ou O mundo em um navio de guerra” de Herman Melville – tradução Rogério Bettoni – Editora Carambaia.

Nesta obra, Melville baseado em sua experiência como tripulante da Marinha Norte-Americana, descreve o microcosmo do dia-a-dia de um navio, que partindo da costa do Pacífico contorna o Cabo Horn, faz uma pausa no Rio de Janeiro (quando nosso imperador Pedro II visita a embarcação) e retorna à Boston. À primeira vista seria um livro entediante, porém quem escreve bem sabe escrever… além de metáforas geniais, o autor faz uma crítica à hipocrisia da disciplina da marinha.

Na verdade , amigo leitor, mon frère, o melhor trecho do livro é o capítulo final, mas não quero ser um estraga-prazeres e contar o fim do livro, então vai aqui um trecho no qual o autor imagina uma cena do juízo final dos navios de guerra de todas as épocas ambientada na baía de Guanabara:

“Arquipélago Rio! Antes de Noé ancorar sua arca no velho Ararate, ancoraram em ti todas essas ilhas verdes e rochosas que agora vejo. Mas Deus não construiu em vós, ilhas, aquelas longas ilhas de baterias , tampouco nosso abençoado Salvador foi padrinho de batismo da carrancuda Fortaleza de Santa Cruz, ainda nomeada em homenagem a ele, o Príncipe da Paz!

Anfiteatro Rio! Em sua ampla extensão poderiam acontecer a Ressurreição e o Dia do Juízo dos navios de Guerra do mundo todo, representados pelas capitânias das frotas – as capitânias das galés armadas fenícias de Tiro e Sidon; das esquadras do rei Salomão que todo ano navegavam rumo a Ofir, de onde, tempos depois, talvez zarparam as frotas de Acapulco dos espanhóis, cheias de lingotes de ouro como lastro; de todas as embarcações gregas e persas que trocaram o abraço bélico na ilha de Salamina; de todas as gales romanas e egípcias que, como águias, escorrendo sangue pelas proas, bicaram-se em Áccio; de todas as quilhas dinamarquesas dos vikings; dos rápidos torpedeiros de Abba Thule, rei do Palau, quando partiu para conquistar Artingall; de todas as frotas venezianas, genovesas e papais que se uniram na batalha de Lepanto; dos dois cornos da crescente Armada Espanhola; da esquadra portuguesa que, sob o comando do galante Gama, castigou os mouros e descobriu as Molucas; de todas as frotas holandesas lideradas por Van Tromp e naufragadas pelo almirante Hawke; dos 47 navios de linha franceses e espanhóis que, durante três meses, tentaram tomar Gibraltar; de todos os navios de 74 canhões de Nelson, que bombardearam São Vicente, o Nilo, Copenhague e Trafalgar; de todos os navios da Companhia das Índias Orientais; dos brigues de guerra, corvetas e escunas de Perry que dispersaram as forças britânicas no lago Erie; de todos os corsários berberes capturados por Bainbridge; das canoas de Guerra dos reis polinésios, Tammahammaha e Pomare – sim!, todos juntos, com o comodoro Noé como seu lorde grande almirante; nessa abundante baía do Rio, todas essas captânias poderiam ancorar e balancar em harmonia até chegar a primeira onda do dilúvio.”

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