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Sábado passado adquiri mais duas pérolas da música brasileira : “AMOR, ORDEM & PROGRESSO” de Jards Macalé e “MAURÍCIO PEREIRA & TURBILHÃO DE RITMOS” …

“AMOR, ORDEM & PROGRESSO” ( lema do positivista Augusto Comte que teve a palavra AMOR extraída , quando inserida no pendão brasileiro ) é o título do mais recente disco de Jards Macalé que traz músicas do autor ( em especial a regravação de “Meu Amor Me Agarra & Treme & Chora & Mata” cuja letra é de Capinam e que não é inferior a versão original de 1972 ) , sambas ( “Roendo As Unhas” de Paulinho da Viola , “Positivismo” e “Falem de Mim” de Noel Rosa ) , bossas novas : “Samba da Pergunta” ( gravada por João Gilberto com o título de “Astronauta” ) e “Consolação” de Baden Powel, canções da mais famosa dupla (*) de locutores esportivos de Pindorama : “Por Causa Desta Cabocla” do flamenguista Ary Barroso e “Manhã de Carnaval” do vascaíno Antônio Maria .

Macalé como sempre revela-se um genial intérprete : sua voz se desenvolve pelas modulações graves enquanto que seu violão realiza algo bem mais criativo do que o dominó harmônico que a maioria dos instrumentistas faz ( a metáfora que realiza a articulação entre a tarefa de combinar acordes com o ato de combinar peças de jogo , infelizmente não é minha , é de Thomas Mann ) . E os acompanhantes são de primeira : no baixo : Arismar Espírito Santo ; na guitarra : Victor Biglione e na percurssão ; Robertinho Silva … com arranjos e regência do próprio Macalé e do Moacyr Luz , provavelmente realizados antes ou após uma passada no famoso Bar da Maria , na R. Anita Garibaldi ( bairro da Muda – Tijuca – Rio de Janeiro ) .

MAURÍCIO PEREIRA já começa com um mérito : é o primeiro artista ( do lado pop ) a homenagear Antônio Marcos na versão de “O Homem de Nazaré” … desde a morte deste , em 1992 , ninguém fez um arranjo decente para as músicas do saudoso cantor e compositor de São Miguel Paulista … ( na verdade a canção é do maranhense Cáudio Fontana , mas ficou famosa na interpretação de Antônio Marcos ).

Além dos arranjos criativos, a banda Turbilhão de Ritmos ( bateria percurssão e voz : Carneiro Sândalo ; baixo e voz : Reinaldo Xulapa ; teclados e voz : Daniel Szafran ; guitarra : Luiz Waack ; trompete e fluegel : Amílcar Rodrigues ) executa as canções com desenvoltura ( principalmente nas harmonias em contraponto do guitarrista ) e a escolha do repertório é muitíssimo bem sucedida : “Universo No Teu Corpo” de Taiguara , “Iracema” de Adoniran Barbosa ( a primeira música a retratar o drama dos atropelamentos ) , “Marcianita” ( que teve várias regravações como a de Caetano Veloso & Mutantes ou a de Raul Seixas ) , “Férias Na Índia” ( de Osmar Navarro e Nílton César ) que mostra o lado world-music terceiro mundista da Jovem Guarda ( o protagonista não foi para Miami nem para Mônaco , foi banhar-se nas águas do Ganges ) … e saindo das águas do supracitado rio indiano para mergulharmos nas águas do lago azul de Ypacaraí em cujas margens ouviremos a clássica “Galopeira” ( aqui Maurício Pereira bate o recorde mundial de tempo de permanência na vogal “E” , no refrão da canção ambientada em Assunção – capital do Paraguai ) …

Temos ainda o funk “Cristina” de Tim Maia , “Sou Uma Criança e Não Entendo Nada” do Tremendão e muito mais … mas a versão que eu gostei mais foi a valsa que virou blues :”Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda” de Lamartine Babo e Francisco Mattoso : a voz comedida de Maurício combina magistralmente com o espírito de Lamartine que se auto-intitulava “O Cantor das Multidinhas” em ironia ao epípeto de Orlando Silva “O Cantor das Multidões” ….

(*) Foi na verdade a única dupla de locutores esportivos : enquanto um time ( geralmente o rubro-negro carioca ) estava com a bola , Ary narrava , quando o outro time ( quase sempre a equipe cruz-maltina de São Januário ) retomava a posse de bola , Antônio Maria passava a irradiar … Pelo timbre do locutor sabíamos quem time estava com a pelota … Com a tragédia do Maracanã em 1950 , os dois pararam de irradiar futebol e os locutores vindouros jamais repitiram tal experiência … Que pena …

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