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O CINEASTA DE JOAÇABA

“O conceito é abstrato, discursivo, inteiramente indeterminado, no interior de sua esfera, determinado somente em seus limites, acessível e apreensível por qualquer um, apenas dotado de razão, comunicável através de palavras, sem ulterior mediação, completamente esgotável em sua definição. A idéia, ao contrário, definida como representante adequado do conceito, é totalmente intuível, e embora representando uma infinidade de coisas individuais, é inteiramente determinada: não é conhecida pelo indivíduo como tal, mas somente por aquele que se elevou, por sobre todo querer e toda individualidade, a sujeito puro do conhecimento: logo é acessível apenas ao gênio e àquele que, por elevação de sua faculdade de conhecer, motivada em sua maioria por obras do gênio, se situa numa disposição genial. Por isto, permite comunicação unicamente mediatizada, a cada um conforme seu valor intelectual proprio; motivo porque as melhores obras de arte, os mais nobres resultados do gênio, permanecerão ilegíveis e inacessíveis à maioria obtusa da humanidade, dela distanciada por intenso abismo, assim como é interdito ao populacho o trato com os príncipes.”

( Arthur Schopenhauer )

Estupefado acabo de assistir a um documentário no Canal Brasil ( tevê-a-cabo) sobre Rogério Sganzerla e não poderia deixar de relacionar com o texto supracitado ( que li no café da manhã ) … Será que o ABISMO a que se refere o filósofo alemão é o mesmo que o cineasta catarinense imaginou quando entitulou aquele filme feito em 1978 ( “ABISMU” ), em que Norma Benguel, fumando um charuto enorme , dirige um Cadilac antigo em uma estrada a beira mar ao som de Jimi Hendrix ??? Será que alguns filmes de Sganzerla ( como “Sem Essa, Aranha” ou “Copacabana Mon Amour” ) não são filmes de idéias em vez de filmes de conceitos , não podendo ( ou não devendo ) serem apreendidos racionalmente , mas intuitivamente , e pelos poucos que possuam “valor intelectual próprio” ???

Será que é por isso que ele não é conhecido em Pindorama ???

É gozado … dizem que Sganzerla é intelectual , mas porque então é que ele foi o único cineasta a filmar com Jorge Loredo ( Zé Bonitinho ), Luiz Gonzaga ou com Roberto Luna ??? O Cinema Novo com toda sua ênfase nordestina jamais botou o Rei do Forró cantando … nem nessas produções novas tipo “Lisbela e o Prisioneiro” …

No final do documentário , o sonho do cineasta de Joaçaba : filmar a Guerra do Contestado !!!

Assisti seu filme mais recente na Mostra de Cinema : “Sob o Signo do Caos” em que narra ( pela terceira vez ) a histórica passagem de Orson Welles em nossa pátria … na terceira parte da trilogia , ele parte para outra linguagem , diferente dos filmes anteriores … em vez de sambas antigos a trilha sonora é de jazz ( Charles Mingus ) , nos diálogos ressurgem aquelas frases propositalmente chulas e as gargalhadas boçais que marcaram “O Bandido da Luz Vermelha” , aliás a montagem ( de Silvio Renoldi ) , a fotografia e os enquadramentos remetem à obra-prima de 1968 …

Porém estou falando de filmes que poucos viram … é possivel que você nunca tenha visto Helena Ignêz ( sua esposa ) protaganizando “Ângela Carne-e-osso” na Ilha dos Prazeres Proibidos , em “A Mulher de Todos”… é possivel que você jamais tenha visto o anão gritando : “O Terceiro Mundo Vai Explodir !!! Quem Tiver De Sapato Não Sobra !!!” , enquanto a capital paulistana é invadida por discos voadores , no “O Bandido da Luz Vermelha”… isto tudo é possível , pois as pessoas “normais” gostam de entrar no cinema para olhar no espelho …

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