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KHADJI-MURÁT – Lev Tolstói – tradução: Boris Schnaiderman – Editora 34 Este romance, a última obra de Tolstói, é a síntese de seu processo criativo… depois de escrever romances extensos como “Guerra e Paz” e “Ana Kariênina”, ele passa aos contos populares e depois às novelas, atingindo o mesmo grau de excelência neste gêneros. Porém no final da vida, ele resolveu voltar a escrever um romance baseado em suas experiências como oficial do exército russo na guerra do Cáucaso (1817-1864), em especial a passagem na qual o guerreiro tchetcheno Khadji-Murat (1796-1852) se entregou ao exército russo. Na época, Tolstói comentou esta história em uma carta ao seu irmão Serguei, depois em 1862 na escola rural que fundou em sua propriedade de Iásnaia Poliana, ele costumava contá-la aos camponeses… por fim, a partir de 1896, passa a escrever um romance, cujos rascunhos possuem 2.166 páginas… até que vai depurando e condensando o texto para chegar a versão final com 159 páginas… O romance está incluso na categotoria designada por Cortázar como construção esférica, definição dada a obras que começam e acabam no mesmo ponto… “Khadji-Murát” inicia e termina com a imagem de um tufo que fora esmagado por uma roda de carroça, mas que se reerguera… uma erva que não se rende a ação destruidora do ser humano… esta imagem (metáfora da luta de povos que se rebelam contra o despotismo e a submissão), lembra ao narrador uma velha história de um guerreiro caucasiano… Na narrativa, através de uma linguagem que antecipa tanto os movimentos de camera quanto a montagem cinematográfica; a ocupação russa no Cáucaso e a resistência dos povos islâmicos, são mostrados sob diferentes pontos de vista (dos povos montanheses, dos soldados, das mulheres que habitavam os quartéis, dos oficiais, etc.). Também são habilmente expostos os aspectos geográficos da região, bem como o contraste cultural entre os povos, acentuado pelos trajes, pela culinária e pelos hábitos cotidianos… Um aspecto que faz com que a leitura deste livro tenha uma forte relação com os dias atuais, é a descrição que Tolstói faz do Czar Nicolau I… vejam como o escritor definiu o tirano em um dos rascunhos preliminares desta obra: “Para que, naquele tempo, um homem que estivesse à testa do povo russo, precisava ter perdido todos os atributos humanos: tinha de ser uma criatura mentirosa, ateia, cruel, ignorante e estúpida, e precisava, não apenas sabê-lo, mas, também, estar convencido de ser o paladino da verdade e da honra e um sábio governante, benfeitor de seu povo” Você, caro leitor, ao examinar os diversos governantes atuais, consegue reconhecer alguma criatura semelhante? Alguém que perdeu todos os atributos humanos?

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