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Continuo a ler as críticas de arte de Baudelaire, e me deparo com um ensaio em que ele compara um salão de arte (exposição coletiva) moderno com um museu antigo, e o resultado é que o museu antigo possui mais unidade… o escritor francês profetiza a mistureba que se tornaria a arte atual, segundo ele fruto da glorificação do indivíduo, onde sem escolas ou grupos artísticos dominantes, cada um faz o que quer… não temos mais os coloristas brigando com os desenhistas, os cubistas enfrentando os expressionistas, a turma da bossa nova contra a turma da tropicália, o pessoal do cinema novo contra o pessoal do cinema marginal, poesia concreta versus a poesia práxis… hoje pode tudo e ninguém liga mais para estas coisas… em compensação a arte (pintura, música, cinema, literatura, etc) está cada vez pior, uma “desordem fervilhante de mediocridades” como bem expressou este sábio escritor: fiquem com um pedaço do texto:

“Comparai o momento presente com o tempo passado; ao sairdes do salão ou de uma igreja decorada recentemente, ide repousar vossos olhos num museu antigo, e analisai as diferenças.
Num, turbulência, confusão de estilos e cores, cacofonia de tons, trivialidades enormes, prosaísmo de gestos e atitudes, nobreza de convenção, clichês de toda sorte, e tudo isto visível e claro, não apenas nos quadros justapostos, mas também no mesmo quadro: em suma – ausência completa de unidade, cujo resultado é um cansaço horrível para o espírito e para os olhos.
No outro, este respeito que leva as crianças a tirarem o chapéu, e se apodera da vossa alma, como a poeira dos túmulos e das covas se apodera da vossa garganta: é o efeito, não do verniz amarelo e da sujeira do tempo, e sim da unidade, da unidade profunda.
(…) Esta glorificação do individuo exigiu a divisão infinita do território da arte. A liberdade absoluta e divergente de cada um, a divisão dos esforços e o fracionamento da vontade humana ocasionaram esta fraqueza, esta dúvida e esta pobreza de invenção.; alguns excêntricos, sublimes e sofredores, compensam mal esta desordem fervilhante de mediocridades. A individualidade – esta pequena propriedade – comeu a originalidade coletiva; (…)”

( Charles Baudelaire )

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