Estou lendo a obra completa de Antonio Di Benedetto, em português li seus romances: “Zamaâ€, “Os Suicidas†e “O Silencieiroâ€; em espanhol estou lendo minha mais recente aquisição nas livrairas portenhas: “Cuentos Completos†– Adriana Hidalgo Editora – 705 páginas, uma coletênea com seus livros de contos: “Mundo Animalâ€, “Cuentos Clarosâ€, “Declinación y Ãngel “, â€El Cariño de Los Tontosâ€, “Absurdosâ€, “Cuentos del ExÃlio†e “Otros Cuentosâ€. Traduzo aqui alguns pedaços de “Espejismos†publicado em “Cuentos del ExÃlioâ€
ESPELHISMOS
Sem boca
O louco se vê no espelho e mostra a lÃngua. Pensa que o espelho está gozando dele. O quebra.
Se arrepende, na hora de pentear-se.
Sobre uma mesa, fragmento a fragmento recompôe o espelho, que fica quase completo.
O louco tenta a olhar-se de novo e vê seu rosto, mas não a boca (falta esta parte que se pulverizou com o golpe).
Desde então nunca mais fala.
Pesadelo
O espelho é um olho: não o olhamos, nos olhamos e ele nos vê, nos está olhando.
(…)
Denúncia
“Eu vi quem roubou o espelho.â€
Assinado: O espelho.
(…)
Precocidade
O espelho é muito pequeno, a garota formosa.
Ela verifica nele a perfeição de seus lábios e em seguida afunda-o nas trevas de sua carteira de mão.
O espelhinho, apaixonado, jura: “Quando eu for grande!â€
As manchas
O espelho com resÃduos enegrecidos: “Não são de mercúrio. As forma o resÃduo da alma que vão deixando os que vem olhar-se em mimâ€.
(…)
A dúvida
Cheio de soberba, afirma para si que encontrará a si mesmo, em tal dia, tal hora, tal lugar.
Quando chega, comprova que não está.
Desde então duvida que seja todo-poderoso.
(…)
A Dificuldade
O escritor que quer escrever um conto infantil volta a ser criança, para colher vivências e linguagem.
Está adquirindo-as e concebe uma história, todavia não foi ao colégio e não sabe escrever.
(…)
(Antonio Di Benedetto – Tradução: José Geraldo de Barros Martins)
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