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Estou lendo “Padre Antônio Vieira – Essencial” uma coletânea de textos deste escritor organizada por Afredo Bossi – Penguin Companhia – 752 páginas…É muito interessante como muitos textos de Vieira são atuais, veja por exemplo este pequeno trecho do “Sermão da Sexagésima” proferido em 1655… nele o padre se refere aos sermões proferidos pelos outros padres, que em vez de focar um só assunto ficam a discorrer sobre uma infinidade de coisas e perdem o fio da meada… hoje, mais de três séculos após, as mais diversas mídias agem como os maus pregadores do passado: lançam uma multiplicidade de informações sem se aprofundar em nada a confundir as mentes desta pobre geração boçalizada por esta nova “cultura” superficial e fragmentária… leiam abaixo as palavras proféticas deste gênio da literatura:

“O sermão há-de ter um só assunto e uma só matéria. Por isso Cristo disse que o lavrador do Evangelho não semeara muitos géneros de sementes, senão uma só: Exiit, qui seminat, seminare semen. Semeou uma semente só, e não muitas, porque o sermão há-de ter uma só matéria, e não muitas matérias. Se o lavrador semeara primeiro trigo, e sobre o trigo semeara centeio, e sobre o centeio semeara milho grosso e miúdo, e sobre o milho semeara cevada, que havia de nascer? – Uma mata brava, uma confusão verde. Eis aqui o que acontece aos sermões deste género. Como semeiam tanta variedade, não podem colher coisa certa. Quem semeia misturas, mal pode colher trigo. Se uma nau fizesse um bordo para o norte, outro para o sul, outro para leste, outro para oeste, como poderia fazer viagem? Por isso nos púlpitos se trabalha tanto e se navega tão pouco.”

(Padre Antônio Vieira)

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