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PONDERAÇÕES SEVILHANAS

Ao contrário de sua primeira estadia em Sevilha, quando Josias Germano e sua fiel escudeira Marília Olávia visitaram a cidade em seu período de férias; a segunda passagem pela cidade não se revelava igualmente agradável… em primeiro lugar não estava acompanhado… sua esposa ficara em Pindorama… e em segundo lugar o nosso protagonista não gozava suas mais que merecidas férias… ao invés disto estava na cidade devido ao Congresso Ibero-americano de Mobilidade Urbana…

Apesar de sua palestra “Políticas de Incentivo ao Transporte Público” ter tido boa acolhida na comunidade acadêmica, Josias Germano caminhava cabisbaixo por las calles sevillanas… para ele o seu relativo sucesso como urbanista era a conta a ser paga por sua covardia de não ter insistido em sua vocação de artista plástico… a segurança de um emprego público o mediocrizara irreversívelmente… a princípio acreditou que seus dotes intelectuais o distinguissem de seus colegas de profissão, que o fato de ter lido Joyce, Klebnikov ou Felisberto Hernadez o fizesse alguém especial… que as conversas com seus amigos o mantivessem (ainda que esporadicamente) em um nível espiritual mais elevado… que poderia dar continuidade em sua carreira de artista plástico paralelamente ao trabalho com a cidade grande… chegou até a fazer algumas exposições… mas o tempo foi passando, alguns amigos morreram e dos outros acabou se distanciando… ao mesmo tempo foi galgando postos superiores em seu ambiente profissional e seu tempo livre foi se tornando cada vez mais escasso e os únicos registros de suas antigas e poucas exposições são recortes de jornal guardados em uma pasta encardida…

Agora estava sentado a mesa de um café e desenhava a paisagem enquanto saboreava seu expresso… notou uma mulher que atravessava a rua… era muito parecida com Marília Olávia… talvez fosse alguma parente distante, uma vez que sua fiel escudeira era neta de andaluzes… terminou o desenho, depois pediu uma água com gás e fez mais dois desenhos… agora já tinha uma trilogia… pagou a conta e seguiu caminhando de volta para o hotel…. porém mudou seu percurso… resolveu ir até o Guadalquivir, o rio que corta a cidade, cujo nome vem do árabe al-wādi al-kabÄ«r (grande rio)…

Ficou horas observando o “al-wādi al-kabÄ«r” e pensando na metáfora de Heráclito que diz que ninguém se banha duas vezes no mesmo rio… a primeira vez em Sevilha descobrira o Alcázar, a Gironda, as ruas movimentadas, o jerez, as anchovas… na segunda vinda, a descoberta de seus medos, de suas covardias… olhou então para seus desenhos… não quis que aquela triologia fosse transportada até Pindorama para ir parar dentro de uma pasta encardida…

Josias Germano deixou as três obras de arte sobre um banco de praça e retornou a seu quarto no hotel… aquele retorno a Sevilha lhe mostrara que sua vida não tinha mais retorno, que jamais seria um artista plástico… que o único retorno possível seria o avião para Pindorama…

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