Skip to content

brahol

A BATALHA DOS GUARARAPES DOS PERDEDORES

Josias Germano e Marília Olávia não gostavam de assistir partidas de futebol em bares e restaurantes… “Jogo de futebol é uma coisa séria… não dá pra assistir ao lado de um monte de gente tôsca falando sem parar!!!… é preciso silêncio para assistir pela tevê… ou então é melhor ir ao estádio… agora assistir jogo em bar é como o sapatênis que não tem a elegância do sapato nem o conforto do tênis…” – costumava dizer o nosso protagonista… Porém naquele sábado um casal de amigos que eles não viam há muito tempo ligou dizendo que estavam no restaurante português situado em frente ao lar habitado por Josias Germano e Marília Olávia…e que gostariam da assistir o Brasil X Holanda junto com eles… o jeito foi ir…

Ao chegar lá encontraram Alonso Hernandez e Suzana Navarro, (ele espanhol ela goiana, filha de espanhóis) tomando um vinho verde e comendo bolinhos de bacalhau.. o jeito foi sentar e acompanhar…

Começaram a falar sobre a Andaluzia, terra de Alonso e dos antepassados de Suzana e Marília… esta contou sobre a recente viagem à Espanha, Salamanca, Toledo, Córdoba, Granada, Sanlúcar de Barrameda e Gualchos, o vilarejo de onde veio seu avô…

Depois falaram sobre literatura… o nosso protagonista começou enaltecendo o jovem escritor espanhol Agustin Fernandez Mallo, pois havia lido “Limbo” seu mais recente livro ainda não editado no Brasil, que tinha sido comprado em uma livraria despretensiosa em Granada… depois falou sobre os autores que lera recentemente, Alejo Carpentier, Mário Benedetti, Macedônio Fernandes, e Euclides da Cunha… Marília Olávia disse que estava relendo Eça de Queiróz, Suzana Navarro disse que estava relendo Hilda Hilst e Alonso disse que estava lendo um uruguaio que tinha o mesmo sobrenome que ele, só que se chamava Felisberto.

Por fim falaram sobre a copa… o nosso protagonista fez um breve discursso que começou com a batalha de Guararapes, passou por diversos Brasil X Holanda: do inicial na Copa de 74, (quando o carrossel holandês de Cruyff superou a seleção de setenta requentada de Rivelino), para o histórico 3×2 da Copa de 74 (quando o escrete canarinho começou bem, sofreu uma pane e por fim fez um gol sofrido), passando pela semifinal de 98 (Pindorama ganhou nos pênaltis) e finalizando no penúltimo vexame: a eliminação na Copa da África do Sul… depois o assunto mudou para o vexame do escrete canarinho diante da blitzkrieg teutônica… ninguém ainda entendera os sete-a-um… para Marília Olávia o resultado era fruto da frieza alemâ, para Suzana Navarro era devido a imaturidade dos jogadores de Pindorama… Alonso Henandez por sua vez traçava paralelos do apagão de Belo Horizonte com outro apagão: a derrota do Santos para o Barcelona em 2011: em ambas as partidas o jogadores tupiniquins ficaram paralizados diante de uma equipe táticamente mais organizada… sem contar que os estilos de Felipão e Muricy são muito parecidos: ausência de meio de campo, chutões para a frente, gols de boila parada, etc…

Porém Josias Germano, adepto das teorias de Arthur Schopenhauer, tinha uma explicação diferente: segundo a lógica do filósofo alemão todos nós fazemos o que desejamos, só que o impulso do desejo se dá de forma inconsciente, de forma que quando alguém fracassa é porque desejava fracassar… ou seja, todos nossos sucessos e fracassos são coisas desejadas por nós… só que desejadas de forma inconsciente… desta forma, o grupo da seleção realmente desejava fracassar, desejava apanhar de sete-a-um… e talvez alguns jogadores, depois de ouvir aquele monte de palavras de auto-ajuda tenha, tenha sem querer, descoberto esta realidade: que o desejo deles era sofrer uma humilhação histórica… e por isto o choro, o pranto, aquelas lágrimas convulsivas derramadas antes das partidas: eles inconscientemente já sabiam que caminhavam ao encontro de seu desejo secreto: conseguir uma humilhação muito maior do que a seleção de 50… tanto que já começaram a Copa com um gol contra…

Quando o nosso protagonista acabou a explicação, chegou o bacalhau a Gomes de Sá acompanhado da segunda garrafa de vinho verde…

Então todos ficaram em silêncio e começaram a comer, assistindo o início da partida na tevê de tela plana e tendo a consciência que independente do terceiro o quarto lugar aquela seleção já havia conquistado o que sempre sonhara…

Post a Comment

Your email is never published nor shared. Required fields are marked *