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Dolce color d’oriëntal zaffiro

Che s’accoglieva nel sereno aspetto

Del mezzo puro infinito al primo giro. (*)

( Dante Alighieri )

(*) Linda tonalidade de safira oriental espargia-se pelo horizonte sereno até onde o primeiro céu alegra a vista. Tradução : Fábio M. Alberti.

Este trecho da “Divina Comédia”, que marca o momento que que Dante e Virgílio avistam o Purgatório , é um dos preferidos do escritor platino Jorge Luis Borges . Dentre uma série de coisas que Borges enaltece no célebre livro de Dante , encontramos o Canto XXVI do Inferno ; no qual Dante e Virgílio ao adentrar a oitava vala do oitavo círculo , avistam chamas com almas ardendo em seu interior . Ali encontram as almas de Ulisses e Diomedes . O ilustre filho de Ítaca descreve suas desventuras , nas quais encontra a morte navegando nos mares do Sul . Teria o Ulisses de Dante chegado a avistar a costa de Pindorama ??? Seria o Monte Pascoal o monte avistado antes do naufrágio ??? . Leiam o que disse Borges :

“Aqui chegamos a algo prodigoso, a uma lenda criada por Dante, uma lenda superior a quanto encerram a Odisséia e a Eneida, ou quanto encerrará esse outro livro em que aparece Ulisses e que se chama Sindibad do Mar (Simbad, o Marujo), de As Mil e Uma Noites.

A lenda foi sugerida a Dante por vários fatos. Temos em primeiro lugar, a crença de que a cidade de Lisboa foi fundada por Ulisses e a crença nas ilhas Bem-Aventuradas no Atlântico. Os celtas acreditavam ter povoado o Atlântico de países fantásticos (…)

Ulisses deixa Penélope e chama seus companheiros e lhes diz que, embora estejam velhos e cansados, atravessaram com ele milhares de perigos; propõe-lhes um nobre intento, o intento de cruzar as colunas de Hércules e de cruzar o mar, de conhecer o hemisfério austral, que, conforme se acreditava então, era um hemisfério de água; não se sabia que haveria alguém ali. Diz-lhes que são homens, que não são animais, que nasceram para conhecer e para compreender. Eles o seguem e ‘fazem asas de seus remos.’

É curioso que esta metáfora também se encontre na Odisséia, que Dante não pode conhecer. Então eles navegam e deixam para trás Ceuta e Sevilha, entram pelo mar aberto e dobram à esquerda. À esquerda, ‘sobre a esquerda’ significa o mal na Comédia. Para ascender ao Purgatório vai-se para a direita; para descer ao Inferno, para a esquerda. Ou seja o lado ‘sinistro’ é duplo; duas palavras em uma. Depois diz-se: ‘na noite, ele vê todas as estrelas do outo hemisfério’ – nosso hemisfério, o sul, carregadode estrelas. (Um grande poeta irlandês, Yeats, fala do ‘starladen sky’ , do ‘céu carregado de estrelas’. Isso é falso no hemisfério norte onde há poucas estrelas em comparação com o nosso. )

Navegam durante cinco meses e por fim vêem terra. O que eles vêem é uma montanha parda por causa da distância , uma montanha mais alta do que qualquer outra jamais vista. Ulisses diz que a alegria se fez pranto porque da terra sopra um turbilhão e o navio afunda. Essa montanha é a do Purgatório, segundo se vê em outro canto.

(…) Perguntamo-nos por que esta canto tem tanta força. Antes de responder, gostaria de lembrar um fato que não foi assinalado até o momento, que eu saiba.

Ele pertence a outro grande livro, um grande poema de nosso tempo, Moby Dick, de Herman Melville, que certamente conheceu a Comédia na tradução de Longefellow. Temos o intento insensato do mutilado capitão Ahab, que quer se vingar da baleia branca. Por fim, ele a encontra, e a baleia o afunda, e o grande romance coincide com o fim do canto de Dante: o mas se fecha sobre eles.”

( Jorge Luís Borges – tradução : Sérgio Molina )

Notem a semelhança :

“Três vezes a proa da nave sobre si mesmo foi torcida e, na quarta, a popa erguendo muito alto, voltou a proa para o fundo, e como se obedecesse ordens de alguém, foi descendo. E o mar terminou por nos sepultar.”

( Dante Alighieri – tradução : Fábio M. Alberti )

“Agora as pequenas aves voavam gritando sobre o pego ainda aberto; uma soturna onda branca bateu contra os lados íngremes da voragem; depois tudo se fechou, e a grande mortalha das águas continuou a ondular, como já ondulara cinco mil anos antes,”

( Herman Melville – tradução : Péricles Eugênio da Silva Ramos )

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