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A MONTANHA MÁGICA – Thomas Mann – Tradução: Herbert Caro – Revisão da tradução e posfácio: Paulo Astor Soethe – Companhia das Letras

Este ano li (ou reli) muitos autores bons: Valeria Luiselli, Malcolm Lowry, João Cabral de Melo Neto, Rodrigo Rey Rosa, Andrés Caicedo, William Faulkner, Thomas Pynchon, Herman Melville, Agustín Fernández Mallo, Angélica de Barros, W. G. Sebald, Xavier de Maistre, entre outros… para fechar o ano com chave de ouro, acabei de ler “A Montanha Mágica” de Thomas Mann… meu pai havia me emprestado a primeira edição de 1952 (Editora Globo), mas acabei comprando esta edição recente pois, apesar de ambas serem traduzidas pelo Herbert Caro, na revisão da tradução, Paulo Astor Soethe traduziu os muitos diálogos em francês, que não foram traduzidos na primeira edição…

Para quem não sabe, trata-se da estória de um estudante de engenharia, Hans Castorp, que resolve visitar seu primo em uma luxuosa casa de recuperação em Davos (Suiça) e acaba ficando por lá por sete anos, até que estoura a Primeira Guerra Mundial. Mas na verdade, este é um livro sobre o tempo, ou melhor sobre a ausência dele, uma vez que naquele sanatório alpino, isolado da correria da civilização, o tempo transcorre de outra maneira… Na verdade como eu já havia percebido em “Fausto” (o de Thomas Mann, é claro), o tempo em suas obras se desdobra em quarto frentes distintas: temos o tempo da estória, o tempo da histórico, o tempo do autor e o tempo do leitor….

“A Montanha Mágica” é um daqueles livros que devemos ler várias vezes e a cada leitura obter uma nova dimensão da obra… como por exemplo o “Ulisses” de James Joyce, mas ao contrário deste que possui uma série de livros explicativos, “A Montanha Mágica” não possui guias que ajudem na travessia de suas 827 páginas…  mas talvez possa haver um: o livro de Thomas Mann sobre o pensamento de Schopenhauer… é possível que  na “A Montanha Mágica”, um romance de formação (bildungsroman), Thomas Mann desejasse que o jovem engenheiro recebesse uma educação schopenhauriana, mas ao invés de adotar uma solução óbvia de criar um personagem que ensinasse a doutrina mastigadinha ao jovem aprendiz, preferiu decompor o “pessimismo humanista guiado pela vontade” de Schopenhauer, em vários personagens e fazer com que Hans Castorp ao travar conhecimento com cada um destes personagens, absorvesse seus saberes e amalgasse dentro de si a síntese destas características, descobrindo empiricamente e por si só, a filosofia de Schopenhauer… teríamos então um pessimista (Leo Naphta) , um humanista (Ludovico Settembrini), um personagem hedonista que representa a Vontade-motriz (Mynheer Peeperkorn) e uma personagem que representa o objeto da vontade de Hans Castorp (Claudia Chaucat)…

Talvez esta seja uma chave… vale lembrar que Mann ao falar aos estudantes americanos em Pinceton, em 1939, sugere que se leia “A Montanha Mágica”  duas vezes seguidas, em uma citação a Schopenhauer, que no prefácio de “O mundo como vontade e representação” sugere ao leitor uma segunda leitura da obra.  Seja como for, embora tenha adorado “A Montanha Mágica” , não vou lê-lo de novo agora, como sugere seu autor, mas com certeza irei relê-lo mais tarde, pois é um grande livro…

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